O V Congresso O Mundo do Trabalho em Portugal: da Fundação do Movimento Operário à Atualidade aspira a profundar o conhecimento sobre o mundo do trabalho, dando não apenas continuidade aos encontros anteriores, mas aprofundando uma perspetiva crítica que nos ajude a responder aos problemas e questões colocados pela crise em que nos encontramos: guerras internacionais e conflictos interimperialistas, problemas socioambientais, políticas de austeridade autocrática e mercantilização dos direitos sociais das classes trabalhadoras. Entre estes desafios, particularizamos a degradação das assim-chamadas condições de trabalho e de vida, a profunda crise de organização dos trabalhadores, a “aparência necessária” do fim da centralidade do trabalho em todas as esferas da vida, situações estas que convulsionam e fragmentam as formas de consciência de classe alcançando os mundos da política, da cultura, da educação, da saúde e, ao fim e ao cabo, da estrutura da vida quotidiana como um todo. O sofrimento e o desalento da maioria da população sobre o porvir não são um dado novo na longa história do capitalismo – esta dimensão crucial, o futuro por se construir, sempre foi um emolumento das lutas sociais, das greves operárias, da organização colectiva e do acalorado debates sobre táticas e estratégias que pudessem por fim se materializar em mudanças, reformas e revoluções sociais. Esperamos que este formato – que retoma para o mundo da ciência, a ideia de Congresso tal como praticado no movimento associativo dos século XIX – seja uma arena aberta ao saber-fazer comprometido com os desafios e dilemas das lutas de classes, um espaço-tempo em que movimentos, plataformas e iniciativas distintas possam expressar sem receios as suas análises, e caracterizações e propostas como contribuições reais às companheiras e aos companheiros, debatendo divergências e discordâncias de diversos níveis em busca de consensos progressivos que possibilitem sínteses que fortaleçam a unidade de acção mantendo o pluralismo de ideias contra a ordem do capital.
Procuramos reunir diferentes tipos de investigadores, estudiosos e intelectuais, académicos e não-académicos, bem como entidades representativas dos trabalhadores, organizações colectivas que refletem a vida social, e o movimento cultural e associativo como um todo.
Neste encontro procuraremos testar um modelo, que, não sendo inédito – como não recordar as Conferências Democráticas de 1871 –, traduz as características autónomas e críticas dos grupos que se juntaram para organizar este Congresso. Em vez de apresentações de 15 ou 20 minutos, que se sucedem com escasso lugar para reflexão critica e criação cooperativa, o Congresso tentará outra metodologia. Os participantes (repetimos, académicos e não-académicos) enviarão um resumo sobre um dos problemas do congresso, cada tema decorrerá num único espaço, como numa Ágora, e será aberto por um conferencista comprometido com a tarefa de elaborar indicações sobre a problemática teórico-prática que a questão evoca. A seguir, o debate seguirá por um tempo de 3 horas, aberto a todos os participantes, a partir das colocações sugeridas pelo conferencista e, é necessário frisar, pelos próprios resumos e ideias apresentadas por cada participante.
Na prática, durante o encontro, teremos um convidado que fará uma análise global sobre o tema ali debatido, abrindo o debate para os inscritos. A ideia não é tão-somente listar pesquisas em curso ou dados recolhidos, mas, sim, aglutinar este conhecimento em torno de um problema para se pensar hipóteses, respostas e diferentes tentativas sobre os temas, ou seja, elaborar novas proposições e sínteses dialécticas que possam contribuir para discutir estratégias de superação das condições de barbárie que incidem sobre as classes trabalhadoras e a maioria da população. Salientamos a importância central da relação entre teoria e prática, acreditando que as questões teóricas são fundamentais para o conhecimento da sociedade, desde que informadas pelos desafios postos à humanidade, requisitos fundamentais para a transformação das realidades actuais.
No fim de cada sessão a equipa da relatoria, escolhida entre os participantes junto do coordenador da sessão, fará um resumo das principais ideias, controvérsias e propostas. Os quatro coordenadores apresentarão, num auditório comum, essas conclusões, abrindo-se então o debate a todos os participantes das quatro sessões, agora reunidos em Plenário.