Duração do projeto |
2002 – 2010
Responsável |
Prof. Rosa Varela Gomes
As escavações arqueológicas realizadas no local onde existiu o antigo Convento de Santana (séculos XVI-XIX), efetuadas sob direção dos professores de Arqueologia da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Rosa Varela Gomes e Mário Varela Gomes, antecederam a edificação de instalações da Faculdade de Ciências Médicas daquela mesma Universidade. Tais trabalhos conduziram à identificação de diversas estruturas, nomeadamente os alicerces das antigas edificações conventuais, uma cisterna, três poços, restos de aqueduto, necrópole (trinta e três sepulturas e cinco ossários) e de doze fossas de detritos, tendo-se exumado milhares de artefactos, ou os seus fragmentos. Ali surgiram desde elementos arquitetónicos a fragmentos de lápides, copiosa coleção de azulejos e de outras cerâmicas, integrando as denominadas produções comuns, vidradas ou esmaltadas, faianças (portuguesas, espanholas, italianas, holandesas e inglesas),porcelanas chinesas, etc., mas também, vidros, objetos metálicos, de pedra e, mais raros, os que utilizaram matérias-primas duras de origem animal. Recolheram-se, de igual modo, grandes quantidades de restos osteológicos, de mamíferos, aves e peixes, tal como valvas de espécies, estuarinas e marinhas, ali consumidas. Aquele espólio tem vindo a ser estudado e publicado, em revistas da especialidade nacionais e estrangeirasou em atas de colóquios e congressos (link para as publicações).
Coleções investigadas |
Azulejos – Foram estudados e publicados 6644 fragmentos de azulejos, incluindo exemplares completos, alguns constituindo pequenos painéis ou sectores destes. São escassos os encontrados in situ. Revestiam as paredes da igreja, claustro, de casa de fresco e bancos de jardim.
Equipa | Rosa Varela Gomes, Mário Varela Gomes, Mariana Brito Almeida.
Artefactos de azeviche – Segundo a tradição, associava-se o azeviche a funções apotropaicas e profiláticas, como às suas qualidades plásticas e estéticas, nomeadamenteo brilho e a cor. Esta foi dominante nos quotidianos europeus, não só religiosos, durante os séculos XVI e XVII, desde o traje ao mobiliário, aspeto em parte devido à austeridade contra-reformista. Foram estudados e publicados objetos ligados à devoção,como contas de terços ou de rosários, com diferentes morfologias e, alguns pendentes, nomeadamente as figas, anéis, um crucifixo e elemento decorativo em forma de leão rampante. Este espólio confirma a existência de ambiente rico e requintado, conforme evidencia o restante acervo exumado.
Equipa | Rosa Varela Gomes, Mário Varela Gomes, Joana Gonçalves.
Artefactos de vidro – Estudaram-se e publicaram-se anéis, um de martírio, braceletes e numerosas contas, que pertenceram a rosários e terços ou a decoração de vestuário. Parte deste espólio é proveniente de Itália, Holanda e, possivelmente, Inglaterra. Os exemplares de vidro refletem não só questões de gosto ou estéticos, mas ainda aspetos idiossincráticos das sociedades humanas, informando-nos sobre redes comerciais, influências e interações económicas e culturais, constituindo testemunhos com enorme potencial histórico.
Equipa | Rosa Varela Gomes, Mário Varela Gomes, Joana Gonçalves.
Matérias-primas de origem animal – Estudaram-se e publicaram-se peças inteiras, e fragmentos produzidas em coral (contas), osso/marfim (braço de Cristo, contas, pentes, escovas de dentes, prótese dentária, seringa, agulheiro, agulhas de costura e de roca, cabo de colher, espelho de fechadura, varetas de leques, cabos de sombrinhas, marcas de jogo), madrepérola (botões, pendentes), carapaça de tartaruga (bracelete e travessas) evértebras de peixe (contas).
Equipa | Rosa Varela Gomes, Mário Varela Gomes, Joana Gonçalves.
Necropolização – Foram estudados e publicados os rituais funerários observados nas inumações em fossa, abertas nas alas do claustro, assim como o espólio que as acompanhava. Elaborou-se análise, na perspetiva da antropologia física, de todos os restos exumados, em função da idade, causa de morte e, em particular, das patologias que apresentavam.
Equipa | Rosa Varela Gomes, Mário Varela Gomes, Carlos Boavida, Joana Gonçalves,Nathalie Antunes-Ferreira.
Selos alfandegários – Testemunham aspetos da vivência quotidiana e de realidades que, dado o seu caráter perecível, só dela dispomos de informação graças às fontes escritas e iconográficas ou, no registo arqueológico, através de vestígios secundários. É este o caso dos têxteis, indiciados através dos selos alfandegários. Estudaram-se, apenas, cinco testemunhos de chumbo, cunhados nos reinados de D. Manuel I e D. João III, que,embora em número reduzido se comparado com o restante espólio deste arqueossítio,transmitem importante informação.
Equipa | Rosa Varela Gomes, Mário Varela Gomes, Joana Gonçalves.
Em progresso |
Almofarizes – Constituem baixa quantidade em relação ao enorme volume do restante espólio recolhido. Encontram-se em estudo seis exemplares, com distinta volumetria, produzidos em mármore branco. Eram utilizados na preparação de compostos medicinais, na botica ou na farmácia do convento, mas, também, na preparação de pastas e de produtos variados de culinária. Existem paralelos, representados em imagens associadas aos dois ambientes referidos, dada a sua importância para, com a ajuda dopilão ou mão, esmagarem variados produtos. Irão contribuir para o estudo holístico do Convento de Santana.
Equipa | Rosa Varela Gomes, Mário Varela Gomes, Joana Gonçalves.
Estudo monográfico da coleção de porcelana chinesa – Parceria com a Sun Yat-Sen University, tem vindo a desenvolver a análise dos cerca de 2.000 fragmentos e peças quase completas de porcelana chinesa, a maioria dos finais do século XVI e inícios do XVII, embora existam exemplares mais tardios (dinastias Ming e Qing). Pretende-se elaborar corpus com a totalidade das peças recuperadas, integrando-as nos respetivos contextos arqueológicos e ideológicos, nomeadamente na perspetiva das relações comerciais entre a China e Portugal. Aquelas cerâmicas apresentam elaboradasdecorações, principalmente em tons de azul sobre fundo branco, encontrando-se, entre elas extraordinária taça com temática erótica, invulgar nas produções chinesas dos inícios do século XVII e insuspeitada em contexto conventual, existindo raras peças Kinrande e Imari. Apresentam rica decoração simbólica, cujos significados, sociais e religiosos temos vindo a abordar.
Também se encontram em curso análises arqueométricas, no Instituto Superior Técnico de Lisboa, tendo em vista a obtenção de informação relativa às pastas e pigmentos utilizados naquelas produções.
Equipa | Rosa Varela Gomes, Mário Varela Gomes, Luís F. Vieira Ferreira, Huan Xiong,Shanshan Li.
Estudo da faiança europeia – Encontra-se em curso o estudo de importante conjunto de cerâmicas importadas de distintos países europeus e, nomeadamente, de Espanha, Itália, Países Baixos, Alemanha e Inglaterra, utilizadas à mesa ou como peças de aparato. Elasdocumentam poder económico, prestígio social e gosto requintado, da comunidade feminina instalada no Convento de Santana, assim como relações comerciais e culturais, entre Portugal e os diversos países mencionados.
Equipa | Rosa Varela Gomes, Mário Varela Gomes, Mariana Almeida, Joana Gonçalves.
Produção de adereços de vidro – Estão a decorrer análises a anéis, braceletes e contas, tendo em vista a identificação de centros produtores e técnica de produção. Nesta investigação, além da NOVA FCSH e NOVA FCT, participam o Institute of Archaeology and Ethnology Polish Academic of Sciences e Department of Glass and Ceramic, University of Chemistry and Technology de Praga.
Equipa | Rosa Varela Gomes, Mário Varela Gomes, Francisca Pulido Valente, SylwiaSiemianowska, Dana Rohanová.