
Memória para Todos (https://memoriaparatodos.pt) é um programa de investigação e partilha de conhecimento que integra múltiplos projetos e iniciativas. Com mais de uma década de atividade, constitui hoje um dos maiores repositórios de história oral em Portugal, reunindo também contributos oriundos de outros contextos geográficos e culturais, nomeadamente de países africanos e da América Latina. Ao promover a convergência entre diferentes expressões patrimoniais e o diálogo entre disciplinas, afirma-se como uma infraestrutura aberta, dinâmica e inclusiva.
Memória para Todos constitui uma das linhas estratégicas de investigação e intervenção do HTC. Enraizado nos princípios da ciência aberta, da interdisciplinaridade e do envolvimento comunitário, este programa reflete de forma exemplar os propósitos fundamentais do HTC: investigar o passado humano, as suas ligações ao território e à comunidade, e contribuir para a construção de sociedades mais conscientes, justas e sustentáveis.
Memória para Todos atua simultaneamente como repositório, arquivo, plataforma de preservação patrimonial e instrumento de mediação científica. Integra mais de 1300 entrevistas publicadas, centenas de fotografias e documentos organizados através de um sistema de gestão de património cultural, com contextualização e georreferenciação, permitindo mapear e compreender as relações entre pessoas, comunidades, territórios e paisagens. Ao documentar memórias enraizadas em lugares e ambientes concretos, o programa contribui para uma leitura plural das formas como os indivíduos percecionam, vivenciam e transformam o seu mundo.
O Memória para Todos assume a história oral como uma ferramenta de investigação crítica e democrática. Através do registo de testemunhos de vida, de narrativas pessoais e coletivas, o programa recupera experiências muitas vezes ausentes dos registos oficiais e das grandes narrativas históricas. Mais do que apenas conservar memórias, trata-se de dar voz à diversidade de percursos e vivências, reconhecendo o valor dos saberes locais, das biografias singulares e das formas múltiplas de pertença. A história oral, neste contexto, torna-se um campo de diálogo, de cidadania e de construção de conhecimento partilhado.
Neste sentido, o programa promove uma abordagem colaborativa, fundada nos princípios da ciência cidadã, envolvendo instituições públicas e privadas — arquivos, bibliotecas, universidades, municípios, escolas, associações — e integrando os cidadãos no processo de produção, organização e disseminação do conhecimento histórico. Enquanto projeto de história pública, o Memória para Todos cria coleções acessíveis e em acesso aberto, documentando histórias de vida e patrimónios culturais em múltiplas geografias e comunidades.
Para além da preservação da memória, o programa valoriza a mediação do conhecimento a longo prazo, garantindo que os resultados científicos sejam compreensíveis e acessíveis a públicos diversos. Reforça, assim, a relação entre a comunidade académica e a sociedade, e contribui para processos de transição cultural e social, através da valorização do património, da educação histórica e da inclusão. Em alinhamento com os princípios europeus de ciência aberta, sublinha a importância do acesso à informação, da justiça cognitiva e da memória como bem comum — num momento de acelerada transformação digital e tecnológica.
Encontros Memória para Todos
Entre as ações mais emblemáticas do programa destacam-se os Encontros Memória para Todos, realizados anualmente. Estes eventos reúnem investigadores, profissionais de diversas áreas, representantes de instituições culturais e membros das comunidades, criando um espaço de reflexão e partilha em torno da memória como património comum. Os temas abordados nos encontros — como sustentabilidade, cidadania, diversidade ou inclusão — sublinham o papel ativo da memória na construção de comunidades coesas, resilientes e solidárias.