Um trabalho académico transportado para documentário filmado
O desenvolvimento de um projeto de investigação em torno dos processos de resistência empreendidos pelos familiares dos opositores à ditadura do Estado Novo, derivou do facto de ainda não se ter registado no tempo histórico uma abordagem específica sobre esta problemática, o que reflectia a necessidade de preenchimento de uma lacuna existente na historiografia no que concerne aos estudos sobre a resistência a este regime ditatorial.
Atendendo a esta circunstância, em tese académica reinscreveu-se este preciso campo com a agregação de 101 testemunhos de familiares, que revelaram as formas de resistência que tiveram de adoptar perante as novas condições de vida impostas pelo regime do Estado Novo.
Neste enquadramento, foram percorridas as várias dimensões onde estas famílias se inseriram, sociais, económicas, políticas, religiosas assim como os factores emocionais resultantes, a partir das representações contidas nas suas memórias.
A relevância desta problemática suscitou o interesse da sua projecção para um documentário audiovisual, permitindo desta forma dar corpo e rosto a estas vozes silenciadas.
E neste âmbito, o filme Aqueles Que ficaram, (Em Toda a Parte Todo o Mundo Tem), coloca este propósito: tornar a realidade destas famílias numa história viva e contribuir para a reconstituição da história da resistência a partir de 28 testemunhos de familiares, que revelam a multiplicidade de impactos a que foram sujeitos.
O filme Aqueles Que Ficaram (Em Toda a Parte Todo o Mundo Tem) procura assim dar a conhecer esta realidade a um público mais vasto.
Todavia, a abordagem em contexto científico dos impactos da ditadura nos familiares dos opositores políticos, tem a capacidade epistemológica de abrir caminhos para outras pesquisas e para outros estudos.
Documentário que dá voz aos familiares de resistentes, aqueles que enfrentaram, em silêncio, as consequências do regime do Estado Novo
Portugal viveu 41 anos o regime político do Estado Novo, que prendeu, torturou e levou ao exílio a quem se lhe opunha. Através dos testemunhos diretos de 28 familiares de resistentes deste regime ditatorial, faz-se o retrato de uma época e de um país, mas também se abrem linhas para o entendimento deste presente. Depois da voz dada aos presos políticos, clandestinos, exilados ou deportados, em vários trabalhos anteriores, chegou a hora de ouvir quem também resistiu ao “cárcere” das privações materiais e emocionais, tantas vezes ainda sem idade para entender e muito menos aceitar as inevitáveis e profundas mudanças abruptas no quotidiano. Filhos, filhas, mulheres quase sempre e ainda hoje em silêncio.
Partindo da recolha e análise de algumas das cerca de 100 entrevistas realizadas com familiares de opositores e inseridas num trabalho de investigação académica na área da História Contemporânea, o filme documental vai conduzir-nos pelas vivências e consequências de um tempo obscuro na vida de cada uma dessas personagens e as suas formas de resistência, contribuindo de igual modo para o acrescer do conhecimento da história da resistência à ditadura do Estado Novo.